Não há muitos casos como o de Mondonhedo, a sétima cruz do escudo da Galiza, a sétima das suas sés episcopais e a sétima das suas sete províncias históricas até 1833. A topónimo Mondonhedo tem dado bastante literatura, alguma significativamente errada.
Em primeiro lugar convém notar que o atual Mondonhedo não se corresponde com o lugar que hoje ocupa a sé episcopal e a cabeceira do concelho do mesmo nome. Ao contrário, corresponde-se com o lugar conhecido como S. Martinho de Mondonhedo, hoje paróquia no concelho de Foz e na época medieval, desde o s. V, habitado por uma nutrida presença de imigrantes bretões que estabeleceram lá a única diócese étnica da Galiza, recolhida como tal no conhecido parochiale suevorum. Daí foi trasladada no século XII 18 quilómetros por ordem da rainha dona Urraca à localização atual, que recebeu o seu nome em substituição do topónimo anterior, documentado como Vila Maior de Vallibria, isto é, Vila Maior do Vale do Bria. Bria conserva-se como bairro em Mondonhedo e é, segundo Reigosa (1952), o atual Masma, em cuja margem situa a sede episcopal de Laniobria, de que falaremos noutra ocasião. Contudo, provavelmente Reigosa esteja errado, dado que o Masma não cruza esse vale e dado que os regos mais próximos são os de Cessuras, Compiceiro, Santa Margarida e Valinhadares, Em 1763, Francisco Antonio Villaamil e Saavedra, que era côengo da catedral de Mondonhedo, escreve numa das páginas da sua Noticias de la Santa Iglesia de Mondoñedo:
Em segundo lugar, a explicação com *mund- obvia a presença maciça tanto na documentação medieval como no gentílico da forma *mind-/*mend-: Mindonieto "Petro de Sancto Martino de Mindonieto et alteros decem dare in pauperibus" (Lourençã: 1117-1119 ca). Mindonieto parece provir, melhor, de um antropónimo Mindónio (Lourençã, 1265) ou Mendónio (em forma Mendonia em Samos, 982), nome latinizado de origem grega que provavelmente seria o do proprietário da zona no momento de dar nome ao lugar. Em Mendónio está o iode necessário para a evolução /n/ > /ɲ/.
Mendonhedo é, com efeito, forma comum na documentação medieval até finais do século XIII, quando começa a rastejar-se a última mutação do nome, afectando agora a vogal ante-pré-tónica. O facto de que essa vogal /e/ tivesse uma nasal posterior, e que a vogal /o/ aparecesse na pré-tónica podem explicar perfeitamente essa mudança Mendonhedo > Mondonhedo por pura harmonização vocálica. A primeira menção documental do novo Mondonhedo —com o— é de 1271, e desde aí tenderá a tornar-se geral, até hoje, enquanto no gentílico se conserva a forma com /i/: mindoniense.
De Mindonieto para o Vale do Bria
El río Bria (Valiñadares) está muy poblado de molinos; y a las piedras de que se forman las ruedas, con que se muele el grano, que se cortan en la falda de un monte que está en la extremidad septentrional del valle (Gramela - Viloalle) atribuyen algunos la buena qualidad del pan, que se come en esta ciudad; otros quieren que penda de la pureza de las aguas, con que se amasa: lo cierto es, no se encuentra en España ciudad de mejores aguas, ni mejor pan que la de Mondoñedo, pues en estos dos géneros a ninguna le conoce ventaja.Como quer que seja, o traslado de uma cidade também não é nenhuma novidade na história, e aqui obedece à reação frente aos ataques viquingos contra a antiga diócese de Britónia. O que não é assim tão comum é que a mudança da civitas —basicamente, a mudança da sua sé episcopal— trasladasse consigo também o topónimo, e que este acabasse substituindo o de Vila Maior — especialmente porque esse Vila Maior já expõe a ideia de uma determinada importância.
Origem etimológica
De volta para Mondonhedo: ao tratar de apreender a sua etimologia desde o sistema evolutivo que deu lugar ao castelhano, a explicação que o identifica a parir de *mund- 'monte' e *onna 'fonte' obvia duas questões fulcrais para o estudo da toponímia etimológica. Em primeiro lugar, a sequência -nn- de *onna dá *onha /ɲ/ em espanhol (há, com efeito, topónimos Oña e derivados em áreas castellanas), mas não em galego, onde apenas se simplifica e cuja única virtualidade é a de evitar a normal lenição do -n- intervocálico. Se esta proposta de *mund + *onna fosse correcta, o topónimo teria sido *mondonedo, no melhor dos casos, ou *Mondoedo, mas nunca Mondonhedo. Para dar o resultado /ɲ/ [nh], em galego-português é necessário um iode, que existiu, como se vê na procedência etimológica do termo. Outra cousa é a aparição de formas do tipo Mondonnedo na documentação tardomedieval do s. XV, que têm mais a ver com o modo —estrangeiro— de representação desse fonema /ɲ/ do que com a evolução linguística, até onde eu sei.Em segundo lugar, a explicação com *mund- obvia a presença maciça tanto na documentação medieval como no gentílico da forma *mind-/*mend-: Mindonieto "Petro de Sancto Martino de Mindonieto et alteros decem dare in pauperibus" (Lourençã: 1117-1119 ca). Mindonieto parece provir, melhor, de um antropónimo Mindónio (Lourençã, 1265) ou Mendónio (em forma Mendonia em Samos, 982), nome latinizado de origem grega que provavelmente seria o do proprietário da zona no momento de dar nome ao lugar. Em Mendónio está o iode necessário para a evolução /n/ > /ɲ/.
Mendonhedo é, com efeito, forma comum na documentação medieval até finais do século XIII, quando começa a rastejar-se a última mutação do nome, afectando agora a vogal ante-pré-tónica. O facto de que essa vogal /e/ tivesse uma nasal posterior, e que a vogal /o/ aparecesse na pré-tónica podem explicar perfeitamente essa mudança Mendonhedo > Mondonhedo por pura harmonização vocálica. A primeira menção documental do novo Mondonhedo —com o— é de 1271, e desde aí tenderá a tornar-se geral, até hoje, enquanto no gentílico se conserva a forma com /i/: mindoniense.
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