Para os temas *tagi- e *tegi-, o professor Edelmiro Bascuas (2006: 62 ss.) tem oferecido o significado "lodeiro" baseado no PIE *ta- "derreter, apodrecer", que parece claro em hidrónimos como Tejo (<Tago). Porém, Miguel Costa (2010) oferece uma revisão na que, sem negar a possibilidade desse significado, traça uma alternativa de ascendência céltica onde *tegi- poderia relacionar-se com o éuscaro tegi, significando "alpendre".
*Tegi- tei deveu funcionar como apelativo mesmo durante e depois da romanização e, no mínimo, até ao século V, quando inicia o período suevo e começam e se espalhar a onomástica germânica. Só assim pode explicar-se a existência de tei com antropónimos germânicos, sob a forma "tei + antropónimo genitivo", com o significado de "casa de...". Aí estão Tadoufe (Tei Adaulfi), Teibade (Tei Baddi); Teilhor (Tei Lauri), Teivente (Tei Valenti), e outros.
Identificado tei com valor apelativo, Costa aponta para a possibilidade de plurais em Teis (conc. Vigo) e Teiz, que apareceria por Teis num documento de Samos de 1079. Porém, como o próprio autor reconhece, há casos de etimologia mais escura: Teicelhe (conc. Lugo), Teicide (conc. Paradela), Teixiz (conc. Oinço), Teilonge (conc. Sárria) e Teigim (conc. Melide). Vejamos se podemos aventurar alguma possível explicação.
No caso de Teicide, a primeira hipótese seria fornecida por Piël no tratamento do topónimo Seide, que ele considera como sendo variante de Saíde, genitivo de Sagildus, de maneira que o híbrido se estabeleceria entre céltico e germânico: Tei Sagildi, isto é, "a casa de Sagildo". Leite de Vasconcelos, porém, duvida desta possibilidade porquanto Ceidi e Ceide aparecem em documentos dos s. X e XI, o que permite considerá-los separadamente de Sagildo. Vasconcelos detém-se aí, mas é por essa via que pode ser proposto, como mais uma hipótese a ser considerada, que o topónimo esteja formado por Tei + sīdī, que é a forma moçárabe do árabe clássico sayyid, com o significado de "senhor". Seria, então um híbrido que obriga a constatar, por uma parte, a ocorrência de outros sīdī entre a toponomástica galego-portuguesa e, por outra, a existência de outros topónimos moçárabes na zona próxima. Sīdī aparece em topónimos castelhanos como Cidamón (< Sidi Hammum, na Rioja), mas Ríos Camacho identifica também com essa origem sīdī os mais próximos Benecida (< Ibn Sayyid, em Leão), Oucide (Lugo), Ceide (Lugo e Minho), Zaide (Lugo e Samora), Cide (Minho) e Vilacide e Vilaside (Crunha), que, por uma parte, têm o seu correlato no Villaceid leonês, por outra, demonstram claramente o uso de sīdī com valor genitivo e, finalmente, podem explicar perfeitamente o Teicide como sendo, na realidade, um Tegi Sidi, a "casa do senhor (árabe)". Parece, pois, que esta segunda hipótese seja a mais acertada. [cf. a nota sobre o tema sidi].
Quanto a Teixiz, aceitarmos a segunda hipótese fornecida para Teicide permite estender a explicação a este caso concreto, que no s. XI aparece em dois extractos do tombo de Samos, reproduzindo ambas as formas gráficas: Teicide em "in Humano in villa que dicunt Teicidi" e Teixiz em "inter duos rivulos Homano et Teixeirua, sub monte Acuto, sub aula sancti Salvatoris et sancta Marie; villa predominata Teixiz", sendo, claramente, o mesmo topónimo.
Finalmente, a terminação -im em Teixim remete para um genitivo latinizado em -ini, tal como testemunham Aboim (como genitivo de Abolinu), Alvim (de Alvinu), Cedrim (de Ceterinu), Sendim (de Sendinu) ou Verim (de Verinu), por citar apenas uns exemplos. Seguindo a série, poderia concluir-se que Teixim provenha do genitivo do antropónimo germânico documentado (a.d. 1058) Teginu, que teria, como genitivo latinizado, Tegini. Não vejo outra hipótese melhor, de modo que, de aceitarmos esta, Teixín (graf. isol.) deveria ser grafado Teigim e, à vez, excluído do grupo de *tegi-, posto que o antropónimo provém, neste caso, do paleo-germânico *þegnaz 'homem livre'.
À margem fica Teilonge, para o qual sou incapaz de apontar qualquer explicação minimamente satisfatória. Teilonje aparece na documentação medieval (Samos, a.d. 1011) como Teiloni, o que, identificando tei- como apelativo, deixa apenas *-lonie para explicar. Como primeira hipótese, vou considerar outra raiz celta, neste caso *(p)lan-yo-, que significa "extenso, chão", e que, por causa da perda do p- inicial, teria resistido à palatalização do grupo pl- > ch-. De não ter sido assim, estaríamos, muito provavelmente, perante um *Teichão que não resultaria tão escuro. É certo que a raiz *(p)lan-yo- está presente em toponímia próxima, como Lanhobre ou Lanhas, mas, contra esta hipótese está o facto de, embora a sabida confusão a/o, não se darem ocorrências certas de *(p)lan-yo- com vogal "o", que é a que exige -lonie. Antes ao contrário, na documentação medieval parece Lonha e Loanha, na atualidade Luanha, no concelho de Brião, mas referido a um monte, o que resulta incompatível com o significado da raiz referida.
A pervivência de tegi
É certo, ademais, como ele mesmo assinala, que as ocorrências de "casa", como em geral de outros étimos do campo semântico da habitação (oicotopónimos), como vila, sá ou pai (< lat. pagus, -i), são muito mais comuns do que as ocorrências que têm a ver com a lama e os lodeiros. Ademais, confrontando *tegi com as línguas célticas obtêm-se tech em antigo irlandês; tig em antigo galês, ti em antigo córnico e boutig (casa de bois; estábulo) em bretão antigo. E não só. Também estão aí as formas latinas tegere (cobrir); tectu (teito), tegula (telha) e tuguriu (tugúrio), que, considerândomos um campo semântico alargado onde possam figurar casa, teito, cobrir, telha e tugúrio, apontam claramente para a raíz indoeuropeia *(s)teg-, com o significado de "cobrir".*Tegi- tei deveu funcionar como apelativo mesmo durante e depois da romanização e, no mínimo, até ao século V, quando inicia o período suevo e começam e se espalhar a onomástica germânica. Só assim pode explicar-se a existência de tei com antropónimos germânicos, sob a forma "tei + antropónimo genitivo", com o significado de "casa de...". Aí estão Tadoufe (Tei Adaulfi), Teibade (Tei Baddi); Teilhor (Tei Lauri), Teivente (Tei Valenti), e outros.
Identificado tei com valor apelativo, Costa aponta para a possibilidade de plurais em Teis (conc. Vigo) e Teiz, que apareceria por Teis num documento de Samos de 1079. Porém, como o próprio autor reconhece, há casos de etimologia mais escura: Teicelhe (conc. Lugo), Teicide (conc. Paradela), Teixiz (conc. Oinço), Teilonge (conc. Sárria) e Teigim (conc. Melide). Vejamos se podemos aventurar alguma possível explicação.
Hipóteses
Comecemos por Teicelhe, cuja terminação -celhe parece apontar diretamente para um genitivo. Com esse valor aparece em multidão de topónimos, como Amarelhe, Boelhe, Corvelhe, Marcelhe, Mourilhe, Ourilhe, Sabadelhe ou Sezelhe. Precisamente Sezelhe, genitivo de Sisellu, pode explicar a forma -celhe neste caso, dando origem a um Tei Sezelhe que, por haplologia, pôde bem ter resolvido em Tei Selhe ou Tei Celhe. Faria parte, pois, do grupo "tei + antropónimo genitivo" referido anteriormente.No caso de Teicide, a primeira hipótese seria fornecida por Piël no tratamento do topónimo Seide, que ele considera como sendo variante de Saíde, genitivo de Sagildus, de maneira que o híbrido se estabeleceria entre céltico e germânico: Tei Sagildi, isto é, "a casa de Sagildo". Leite de Vasconcelos, porém, duvida desta possibilidade porquanto Ceidi e Ceide aparecem em documentos dos s. X e XI, o que permite considerá-los separadamente de Sagildo. Vasconcelos detém-se aí, mas é por essa via que pode ser proposto, como mais uma hipótese a ser considerada, que o topónimo esteja formado por Tei + sīdī, que é a forma moçárabe do árabe clássico sayyid, com o significado de "senhor". Seria, então um híbrido que obriga a constatar, por uma parte, a ocorrência de outros sīdī entre a toponomástica galego-portuguesa e, por outra, a existência de outros topónimos moçárabes na zona próxima. Sīdī aparece em topónimos castelhanos como Cidamón (< Sidi Hammum, na Rioja), mas Ríos Camacho identifica também com essa origem sīdī os mais próximos Benecida (< Ibn Sayyid, em Leão), Oucide (Lugo), Ceide (Lugo e Minho), Zaide (Lugo e Samora), Cide (Minho) e Vilacide e Vilaside (Crunha), que, por uma parte, têm o seu correlato no Villaceid leonês, por outra, demonstram claramente o uso de sīdī com valor genitivo e, finalmente, podem explicar perfeitamente o Teicide como sendo, na realidade, um Tegi Sidi, a "casa do senhor (árabe)". Parece, pois, que esta segunda hipótese seja a mais acertada. [cf. a nota sobre o tema sidi].
Quanto a Teixiz, aceitarmos a segunda hipótese fornecida para Teicide permite estender a explicação a este caso concreto, que no s. XI aparece em dois extractos do tombo de Samos, reproduzindo ambas as formas gráficas: Teicide em "in Humano in villa que dicunt Teicidi" e Teixiz em "inter duos rivulos Homano et Teixeirua, sub monte Acuto, sub aula sancti Salvatoris et sancta Marie; villa predominata Teixiz", sendo, claramente, o mesmo topónimo.
Finalmente, a terminação -im em Teixim remete para um genitivo latinizado em -ini, tal como testemunham Aboim (como genitivo de Abolinu), Alvim (de Alvinu), Cedrim (de Ceterinu), Sendim (de Sendinu) ou Verim (de Verinu), por citar apenas uns exemplos. Seguindo a série, poderia concluir-se que Teixim provenha do genitivo do antropónimo germânico documentado (a.d. 1058) Teginu, que teria, como genitivo latinizado, Tegini. Não vejo outra hipótese melhor, de modo que, de aceitarmos esta, Teixín (graf. isol.) deveria ser grafado Teigim e, à vez, excluído do grupo de *tegi-, posto que o antropónimo provém, neste caso, do paleo-germânico *þegnaz 'homem livre'.
À margem fica Teilonge, para o qual sou incapaz de apontar qualquer explicação minimamente satisfatória. Teilonje aparece na documentação medieval (Samos, a.d. 1011) como Teiloni, o que, identificando tei- como apelativo, deixa apenas *-lonie para explicar. Como primeira hipótese, vou considerar outra raiz celta, neste caso *(p)lan-yo-, que significa "extenso, chão", e que, por causa da perda do p- inicial, teria resistido à palatalização do grupo pl- > ch-. De não ter sido assim, estaríamos, muito provavelmente, perante um *Teichão que não resultaria tão escuro. É certo que a raiz *(p)lan-yo- está presente em toponímia próxima, como Lanhobre ou Lanhas, mas, contra esta hipótese está o facto de, embora a sabida confusão a/o, não se darem ocorrências certas de *(p)lan-yo- com vogal "o", que é a que exige -lonie. Antes ao contrário, na documentação medieval parece Lonha e Loanha, na atualidade Luanha, no concelho de Brião, mas referido a um monte, o que resulta incompatível com o significado da raiz referida.
Moitas grazas por este fundamental traballo.
ResponderEliminarUn saúdo.
Xabier, obrigado a ti pelo ânimo. Continuemos...
ResponderEliminarInteresante artigo!-
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