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Todo o poder aos concelhos: um levante popular de 1117

“Berravam desde fora: «que saia a rainha se quer, para ela damos permissão; os demais que morram a ferro e lume». [...] Saiu a rainha da torre. Quando a viram, botaram-se a ela, agarraram-na e tiraram-na no chão, na lama, raptaram-na como lobos e rasgaram-lhe os vestidos. Com o corpo despido de peito para baixo, ficou vergonhentamente exposta diante de todos durante muito tempo. Muitos quiseram lapidá-la e uma velha feriu-a gravemente na meixela com uma pedra.” Isto foi por 1117, há novecentos anos, em Compostela. E assim o conta a História Compostelana , livro 1, capítulo 114. O relato — um dos que ficam ocultos entre o silenciamento geral da história medieval da Galiza — é o de um dos primeiros levantes populares urbanos da Europa medieval, que a historiografia tradicional explica como uma simples sequência dos conflitos sucessórios dos reinos da Galiza, Leão e Castela após a morte do rei Afonso VI. Com efeito, a assim humilhada era a raínha Urraca (filha desse mesmo Afonso), que
Mensagens recentes

Toponímia maior da comarca de Arçúa

A comarca de Arçúa (graf. isolac. Arzúa ) limita a norte com as terras de Ordens e Betanços , a leste com a Terra de Melide , a oeste com a comarca de Santiago e a sul com o rio Ulha e as terras do Deça . Na atualidade, a comarca de Arçúa inclui o concelho do mesmo nome, e também os de Boimorto , Pino e Touro . A localização da comarca, acavalo entre as províncias históricas de Santiago e Betanços tem levado à divisão de alguns dos seus concelhos e à criação de outros novos, como o de Boimorto, no século XIX, com o consequente impacto na toponímia maior. Fervença das hortas no rio de Saímes, que separa os concelhos de Arçúa e Touro Arçúa O topónimo Arçúa parece já com essa forma na idade meia: "Petrus Didaci de Arçua" (CDGH, 1283), "scudeiro que levava os taes moravedis ata a vila de Arçua et que tomase carta de pago" (TMILG: Santiago, 1418). A forma originária de Arçúa deveu ser um * Artiŏla , a mesma forma que dá origem a Arçoá em Vilardevós.

O calvário galego de Claude de Bronseval

Os caminhos e as peregrinações no s. XVI pouco deviam ter a ver com as de hoje, que ateigam Compostela de turistas com todas as letras que simulam diferenciar-se do resto pola particularidade de chegarem de a pé, de bicicleta ou a cavalo. Notícias e narrações dessas viagens à Galiza abundam desde a Idade Meia, sempre com uma constante: serem as visões de estrangeiros a contarem o visto da sua própria óptica, que é a óptica do visitante. Um texto particularmente interessante é a Peregrinatio Hispanica de Claude de Bronseval , o secretário do abade do mosteiro cisterciense de Claraval, Dom Edme de Saulieu, que acompanha o próprio abade numa visita à península ibérica em 1532 que não é exatamente uma peregrinatio pro Christo , mas sobretudo para pulsar os ânimos nos vários mosteiros da congregação pola iminente fusão destes na congregação de Castela e a eventual separação da matriz francesa. Bronseval deixa por escrito os episódios da peregrinação — que entra na Galiza por Ponferrada

Bois na toponímia: falsos zootopónimos?

As homofonias criam, amiúde, topónimos que, desde determinado ponto de vista, podem resultar intrigantes. Já falamos do caso de Cervo, Cervantes ou Cerveira , e do modo como parecem zootopónimos vindos do cervus latino, sendo que provêm, mais provavelmente, da raíz PIE *ker- , com valor também oronímico. E ainda não é um caso muito extravagante, porque cervos / zebros houve na Galiza e em Portugal, ainda quando parece difícil que possam dar para estabelecer um topónimo. Para isso parece que seja necessário um bocado mais. Outro caso de confusão com zootopónimos é o de boi-, que, desse ponto de vista, estabeleceria toponímia certamente abstrusa como Boimorto, Boi de Canto ou Boiamonte, que por pressão dessa explicação espúria, há quem escreva Boi-a-Monte (como se fosse cabra). Com boi- há Boiaca , Boial , Boialvo , Boiám , Boico , Boicornelho , Boi de Canto , Boi de Gures , Boidobra , Boimorto , Boi Pequeno , Boiro ( com reticências ), Boisaca , Boivão , Boi Vivo e Boi

Toponímia maior da comarca dos Ancares

Os Ancares , a serra que hoje faz de limite oriental à Comunidade Autónoma Galega, mas que geograficamente oferece um contínuo com a comarca irredenta do Bérzio, é também o nome que recebe a comarca histórica e administrativa conformada polos atuais concelhos de Bezerreã , as  Nogais , Baralha , Cervantes , Návia de Suarna e Pedrafita do Zebreiro , em território administrativo galego, mais o concelho de Candim , em território administrativo leonês. Atravessada por vários afluentes do rio Návia , limita a norte com a comarca da Fonsagrada , a oeste com a comarca de Sárria , a sul com a Terra de Quiroga e a leste com o Bérzio . O topónimo Ancares O topónimo Ancares, na sua extensão mais reduzida, corresponde a um vale onde hoje se situa o concelho de Candim (graf. esp. Candín). Em 1787, o Censo de Floridablanca já recolhe uma jurisdição de Ancares , integrada por oito povos: Candim , Pereda , Sorbeira , Vilasumil , Sortes , Espinhareda de Ancares , Lumeiras e Vilarbom , com

O reino da Galiza no Teatro do Mundo de W. J. Blaeu.

Em 1650,  Willem Janszoon Blaeu  publicou em Amesterdão o conhecido como Le theatre du monde ou Nouuel atlas , um compéndio cartográfico que, além de mapas, incluía também uma série de textos descritivos (geográfica e historicamente) de cada um dos territórios tratados. A continuação, reproduzo o texto relativo à Galiza, traduzido (penso que pola primeira vez na nossa língua) e na sua versão original em francês, assim como umas considerações finais, por força brevíssimas: Tradução A Galiza toma o seu nome dos povos Calaicos . Este reino limita pola banda setentrional com o Oceano, ao seu sul está Portugal , separado dela polo rio Douro ; ao levante, limita com Astúrias e Leão. Décimo Júnio Bruto, cónsul romano, após ter vencido os povos daquele país no ano 617 após a fundação de Roma, recebeu o sobrenome de Galaico . Mas é certo que os galaicos, ou, mais bem, os galegos, se estenderam por um largo espaço e ocuparam uma grande porção de terra, visto que Paulo Orósio diz que a

Toponímia maior da comarca da Arnóia

A comarca da Arnóia — oficialmente, comarca de Alhariz-Maceda — inclui os concelhos de Alhariz , Banhos de Molgas , Maceda , Paderne de Alhariz , Junqueira de Ambia e Junqueira de Espadanedo . A comarca linda a leste com a terra de Ourense , ao oeste com a terra de Caldelas , a sul com a Límia e a sueste com a terra de Celanova ;   e possui dous pontos de referência importantes: o monte Penamá (927m) e o rio Arnóia , que a atravessa de leste a oeste. Alhariz Alhariz é, sem dúvida, o centro urbano mais importante da comarca e, como corónimo, possui uma extensão no vizinho Paderne, que é de Alhariz, o que aponta para a sua importância referencial. Etimologicamente é bem fácil deduzir uma procedência de  Aliarici , como genitivo de  Aliaricus,  cujo segundo elemento - rik - (* rīkjaz  'forte, nobre') leva imediatamente para a antroponímia germânica de que já falamos aqui . Há documentado, com efeito, Aliarico, que é caso pouco frequente, porém, válido. De maneira que a  ui