Há casos de toponímia inventada. Por inventada refiro-me ao facto de não ter sido produzida de forma coletiva polos povos ao longo dos tempos e assentada pola ação mesma de nomear os lugares — mas imaginada por uma pessoa ou por um grupo muito reduzido de pessoas e só depois aceitada e reproduzida através de mecanismos exógenos ao que seja a normal evolução das línguas. A nota de hoje é o primeiro dos exemplos que quero trazer a este caderno: o corónimo Costa da Morte.
A tão famosa Costa da Morte, que nomeia uma franja da costa galega que, para além da controvérsia sobre o seu abrangimento, tem nas leituras mais restritivas uma extensão que inclui as comarcas de Soneira, Fisterra e Bergantinhos, e nas mais extensivas também a de Muros. Um topónimo hoje perfeitamente assentado, mas com uma história muito curta em cuja origem está uma vontade poética, mais do que a habitual constatação de um fito geográfico ou antropográfico.
Segundo o investigador José Manuel Lema, a primeira constância escrita da "Costa da Morte" localiza-se num artigo de José Lombardero de 14 de janeiro de 1904 aparecido no jornal El Noroeste, fazendo referência aos naufrágios do Kenmore, o Draga Rosario 2 e o Francisca Rosa, afundidos, respetivamente, em Trava de Lage, Santa Marinha e Lobeira, os três na noite de 11 para 12 de janeiro, por causa de um nevoeiro. Eis a primeira aparição conhecida do topónimo. Depois, ao longo de 1904, apareceria mais vezes, porque apenas naquele ano naufragaram um total de sete buques naquelas costas. A definição poética de Lombardero calhou bem no imaginário coletivo e, daí, passou a utilizar-se até como marca turística.
Cabo Vilano |
Segundo o investigador José Manuel Lema, a primeira constância escrita da "Costa da Morte" localiza-se num artigo de José Lombardero de 14 de janeiro de 1904 aparecido no jornal El Noroeste, fazendo referência aos naufrágios do Kenmore, o Draga Rosario 2 e o Francisca Rosa, afundidos, respetivamente, em Trava de Lage, Santa Marinha e Lobeira, os três na noite de 11 para 12 de janeiro, por causa de um nevoeiro. Eis a primeira aparição conhecida do topónimo. Depois, ao longo de 1904, apareceria mais vezes, porque apenas naquele ano naufragaram um total de sete buques naquelas costas. A definição poética de Lombardero calhou bem no imaginário coletivo e, daí, passou a utilizar-se até como marca turística.
Bom, para além de que o primeiro testemunho documental do sintagma "Costa da Morte" seja relativamente recente, eu acho que as raízes dessa denominaçom som muito mais profundas e antigas. No "Dicionário dos Seres Míticos" fala-se de que na tradiçom maragata, essa regiom era chamada "Costa de los Muertos", por exemplo.
ResponderEliminarCumprimentos!
Com efeito, Ulmo. Costa da Morte equivale a Costa dos Mortos. Eu não conhecia essa referência da maragataria, mas sei que há uma Côte des Morts na Bretanha, concretamente na península de Crozon, onde se encontram uns impresionantes cons que recebem o nome de Tas de Pois. Pergunto-me se será tradição céltica, tendo em conta que o que aquilo que os galeses chamavam Annwn e os irlandeses chamavam "a casa de Donn" se encontra sempre ao oeste, e comumente retratado como um castelo giratório no meio do mar, protegido por uma série de ilhas fortificadas que bem poderiam ter relação morfológica com os cons que na nossa costa abundam. Enfim, alguém haverá que saiba mais do tema e o possa clarificar. Em qualquer caso, talvez Lombardero recolhesse uma forma local, mas como não há quase constância dela até ao seu artigo? Curioso, no mínimo.
EliminarPois tenho eu para mim que, tal como indicades, essa nova denominação recolhe -por acaso ou não- a velha denominação da "Costa dos Mortos" tal como fica testemunhada no material arqueológico e toponímico a indicar achar-se aí o ponto de partida das ânimas cara o além segundo a mitologia céltica.
EliminarEstou com Ulmo no que diz a respeito de uma mais que provável presença toponímia prévia aos artigos jornalísticos que depois deram tanta presença à "Costa da Morte". A substituição da morte como viagem (de origem céltica, provavelmente) pela morte como naufrágio (de tradição moderna, neste caso) é mais do que possível, e podemos acreditar nela porque a vemos constantemente em casos análogos ou similares. Mas o que me preocupa é o facto de que, com a exceção da tradição maragata que cita Ulmo, nada há na documentação ou nada eu encontro nela que aponte para isso. Alguém tem mais informação?
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