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Falsos fitotopónimos

Quantos nomes de lugar há que sejam Carvalho? Quantos Pinheiro? Quantos Sobreira, quantos Figueira, Nogueira ou Moreira? E, porém, como suspeita José da Cunha, não são elementos vulgares de mais para darem nome a um lugar? Não são elementos que há por toda a parte e, por isso mesmo, inúteis para significar com o seu nome um espaço geográfico com as exigências que isso comporta? Será que há falsos fitotopónimos? Pois, vejamos.

Sambucus nigra
O próprio Cunha resume o processo de maneira dificilmente melhorável: "não dão nome às coisas, absorvem o nome de outras coisas". Assim parece que seja, com toda probabilidade, em diferentes casos. De modo que Castanheira seria, por exemplo, uma forma assimilada de costaneira, como lugar do início de uma encosta. Esse costaneira assimilar-se-ia ao fitónimo castanheira por duas leis fundamentais das línguas: a economia da linguagem e, quando menos até ao século XIX, a extrema variabilidade toponímica de uma área para outra (falando, inclusive, em áreas relativamente pequenas). Como este exemplo há vários. Alguns, os mais comuns, já tratados por Cunha, convém tê-los presentes para não cair no óbvio nem ficar ancorado em etimologias fantásticas que a nada levam — além dos pacotes turísticos. Entre os tratados polo professor estão Figueira, que ele identifica como derivado do verbo ficar/fixar, portanto, relacionado com o topónimo e o conceito de "Póvoa"; Macieira/Macieiro, relacionada com o topónimo Mação/Maçám (também em Boimação e Pusmação), vindo provavelmente do latim mansio e significando, pois, "casa"; Moreira, relativa ao conceito de morar e moradia; Nogueira, associado a elevações e que dá nome a várias serras; Oliveira (e Olveira), documentado como Ulveira, isto é, lugar húmido e pantanoso; Pereira, asociado a pedras (< peras); Pinheiro (e também, Pinho), relacionado com um ponto elevado; e Sobreira, relacionado com a preposição latina super e explicitando algum tipo de terra ou (villa) supraria, isto é, elevada. E o que há de Carvalho? Pois tudo aponta para que seja mais um caso de assimilação formal e que a referência do seu mais provável significado esteja na raiz indoeuropeia *kar, talvez chegada através do celta *car > *carv.

Estes são os casos estudados por Cunha, mas parece haver, no mínimo, mais dois. Em primeiro lugar, Bieito (também conhecido como sabugueiro, nome que comparte com o resto da lusofonia), que analisávamos parcialmente na nota sobre Bento/Vento, e que poderia tratar-se de um antropotopónimo ou de um simples adjetivo (em ambos os casos, proveniente do benedictu latino) mais provavelmente que de um fitónimo (Sambucus nigra). Em segundo lugar, Loureiro, que poderia ser mais um caso nas mesmas coordenadas, sendo como eram Laura e Lauro, com os seus derivados, formas comuns da antroponímia latina (relacionada com o loureiro - laurus nobilis -, mas sem significar, univocamente, loureiro).

Finalmente, cabe mais uma consideração. Um dos pontos em comum da maioria destes falsos fitotopónimos é a terminação -eira/-eiro. A existência dessa terminação não deve desviar a atenção, mesmo que faça assim coincidir palavras e propicie a assimilação. Esse sufixo -eira/-eiro é tão abusivamente utilizado em galego-português que se tem esvaziado completamente de significado, ao ponto, como reconhece Moralejo (2010), de resultar banal.

Comentários

  1. Excelente blog.

    Respecto a esos falsos fitónimos, ¿pensó en que algunos de ellos se pueden entender, quizás, desde la perspectiva viaria?

    R. Villanueva

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  2. Villanueva: talvez. Nada obsta para que não seja desse modo. O que transparece, para mim, bastante claramente é o facto de não serem fitónimos na maior parte do casos. O que escondam por trás da sua aparência é já outra coisa. Obrigado pelos cumprimentos.

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